Abaixo, um curioso relato do Pr. Rinaldo de Mattos, missionário da Junta e Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira que atua com a etnia Xerente. Em tempo: o NT no idioma xerente já está concluído, cf. foto abaixo:
TRADUZIR PRIMEIRO, PARA DEPOIS PREGAR
Xerentes celebram a entrega do Novo Testamento em sua língua. Créditos da imagem: JMN.
Tem-se geralmente a idéia de que um missionário aos índios, com a função de pregar, discipular e treinar líderes locais, visando o surgimento de uma igreja indígena, não precisa, necessariamente, de fazer um curso de lingüística ou de tradução da Bíblia, já que o mesmo não vai especificamente traduzir o Novo Testamento.
Na minha experiência, as coisas aconteceram de modo diferente. Não sou tradutor, e sim lingüista. (O Novo Testamento Xerente foi traduzido pelo colega Pr. Guenther Carlos Krieger e será entregue ao povo, se Deus quiser, ainda este ano). Fiz o curso da Wycliffe (aliás, o primeiro ministrado no Brasil, em 1958, em Peniel) e com o mesmo pude fazer vários trabalhos. Entre eles a elaboração do próprio alfabeto Xerente, em parceria com o colega acima. Na área da igreja, atuo mais como pregador, discipulador e preparador da liderança indígena. Faço também trabalhos na área da antropologia, mas isso aprendi lendo livros.
Mas a minha experiência simultânea como pregador e tradutor, aconteceu quando comecei a ensinar as histórias bíblicas em ordem cronológica para um número de aproximadamente 40 crianças (hoje são 80) na aldeia Salto. Mesmo conhecendo a língua Xerente a ponto de poder pregar nesse idioma, encontrei muita dificuldade ao tentar transmitir, de improviso, os significados de certas palavras e expressões contidas nos primeiros capítulos de Gênesis (por onde começamos). Como, por exemplo, as palavras primeiro, segundo, terceiro dia, etc. (já que o Xerente não tem números ordinais); como também jardim, árvore da vida, árvore do conhecimento do bem e do mal, altar, oferta, a marca que Deus colocou em Caim, o betume com o qual Noé calafetou a arca, Torre de Babel e tantos outros da mesma natureza. Descobri, na experiência, que, a menos que eu me propusesse a efetuar a tradução das histórias bíblicas que eu estava tentando ensinar, utilizando os mesmos critérios que meu colega usara para traduzir o Novo Testamento, com todas as suas revisões, etc. (e não havia outro para fazê-lo), nunca poderia transmitir aqueles conceitos e significados adequadamente para aquelas crianças, tampouco para os adultos. Feita a tradução, aí, sim, eu pude sentir segurança na hora de transmitir (pregar, ensinar, etc.) os significados contidos nos referidos textos.
Moral da história: tentar transmitir, quer seja através da pregação ou do ensino, conceitos e significados contidos em textos bíblicos que não foram ainda adequadamente traduzidos para um dado idioma é, no mínimo, temerário.
P.S. Também não fiz curso de tradução da Bíblia. Aprendi lendo livros.
O texto acima foi capturado do site da Missão Novas Tribos do Brasil ( http://tinyurl.com/2dulu5d ), e originalmente publicado na revista Confins da Terra, edição n.ᵒ 128, pg. 4.
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